quinta-feira, 21 de abril de 2011

17:34

O gosto de seu café igualava à sua alma, amarga, e o espelho não retratava a realidade, mostrava apenas uma garota, que não mais sorria. O espelho mostrava o que era visível aos olhos, a todos os olhos em sua volta. Sua armadura pesada e de material frágil, escondia por trás por trás de uma fina e penetrável pele macia de veludo as feridas invisíveis aos olhos e incompreendidas pela razão.

Os olhos castanhos claro não transmitiam mais nenhuma emoção; a vitrola antiga que estava sempre a tocar sua canção favorita estava muda, de luto pelos pés mortos e estáticos presos ao chão. Arrastou-se lentamente pela casa, deixando rastros de suas lágrimas, inundando o ar com cheiro de blues. Sentou-se em sua cadeira em frente à janela e presenciou um pôr-do-sol sem tons degradê e pássaros voando ao horizonte. Não viu nada, e os seus olhos, tampouco fizeram questão de ver algo. Respirou fundo e pela noite continuou ali, dando cada vez mais espaço ao que lhe preenchia: o nada.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Acho isso digno.

Temida e traiçoeira morte,
Não costumo pensar em ti. Assim como todos, teimo pelo o que um dia há de vir. Meus olhos lacrimejam e o meu coração dispara. Como e quando tudo isso acabará? Temos almas? Vamos para céu? Para o inferno? Ou tudo o que nossa sociedade diz é balela? Tenho perguntas, muitas; procuro as respostas. Quando eu morrer irei achá-las?
Quero morrer do jeito menos doloroso. Não é dormindo, afogada ou queimada no fim de mundo. Quero morrer do modo mais digno e sincero. Alguns diriam que esse modo é morrer por amor, eu digo que é morrer de amor. Morrer por algo que me encha a alma antes de esvaziá-la, que me faça sentir no paraíso mesmo que esse mundo seja um inferno, que faça a pena valer meu último suspiro. Porque afinal, o que somos nós, meros seres humanos, sem o amor e tudo aquilo o que ele nos faz sonhar e acreditar?

domingo, 29 de novembro de 2009

Pare com isso, agora!

Depois de cinco colheres de sobremesa de açúcar, o café ainda deixava um gosto amargo em sua boca. O Sol da manhã que antes trazia a ela paz, agora incomodava seus olhos vermelhos após uma noite longa de insônia. Em meio de suspiros e soluços, tentava pensar em algo aleatório, algo que lhe trouxesse alegria... Nada. Sentia-se estúpida por encontrar-se naquela situação. Havia sido sempre forte, então porque aquela dor idiota e seus pensamentos negativos invadiam sempre sua mente e seu coração, deixando-a sem nenhuma explicação?
Na manhã seguinte quando abriu os olhos, desejou fechar-los novamente. Não queria saber o que lhe esperava, se tinha trabalho, ou se tinha compromissos. O futuro incerto lhe dava medo. A confusão lhe dava medo. A vida lhe metia medo.
Palavras lhe consolando, piadas manjadas, e nem situações cômicas mostradas em sua televisão lhe arrancaram sorriso. Seu semblante permanecia triste, com os olhos ainda avermelhados e o nó em sua garganta. Esperou uma ligação, esperou um “eu te amo”, esperou um abraço amigo... Mais uma vez, nada. Como sempre, nada.
Estaria mentindo se falasse que era a primeira vez que sentia-se sozinha mesmo com tanta gente em volta. Gente que não se importava, gente que via apenas seu exterior, o sorriso forçado e ouvia sua risada forçada. Gente que não parecia gente; gente que parecia animal. Um animal pronto a atacar e te apunhalar quando você menos espera, apenas para a sua sobrevivência, pensando apenas nele mesmo.
Arrependeu-se. O que adiantou ter sido altruísta, esbanjado abraços e conselhos se ainda assim se sentia sozinha, se ainda assim toda a noite aquelas malditas lágrimas que mais pareciam sangue, insistiam escorrer de seus olhos?
Sentiu-se tola em meio à uma sociedade hipócrita e egoísta. Se talvez tivesse feito parte dela, jamais teria se machucado. Se tivesse mentido vários “eu te amo”, inventado desculpas para cada ser que lhe pediu ajuda ou não tivesse forçado sorrisos às pessoas, talvez ela ainda estaria se sentindo viva, estaria agora com um sorriso no rosto.
Machucar as pessoas é algo tão fácil, reparar a dor é a parte difícil, parte que poucos conseguem lidar. Ela sabia que tudo aquilo era um exagero, que como sempre ela esqueceria, perdoaria mais uma vez e que com sua vida seguiria, mas ela desejava que aquilo parasse. Que aquilo apenas acabasse.

domingo, 22 de novembro de 2009

Será assim até a eternidade.

Esqueci-me que tinha olhos e deixe-me ser guiado pelos seus, enquanto o brilho de seu lindo sorriso iluminava o caminho escuro que um dia eu tive que enfrentar. Contemplamos a luz do luar e vimos timidamente o Sol nascer, pintar o céu acinzentado de laranja, iluminar o quarto escuro e nos lembrar que já havia passado a hora de ir dormir. Entre lençóis, brincadeira e carícias prometemos um futuro tão belo, e de modo, incerto. Incerto quanto o tempo em que havíamos passado naquela cama, sobrevivendo apenas de amor, carícias e sussurros. Vi você em meus braços amanhecer, e mais tarde nos mesmo adormecer, fazendo surgir em meu rosto aquele sorriso bobo, um sorriso de um bobo apaixonado. Quero tocar sua pele aveludada todos os dias, sentir o cheiro de rosas que você emana e o seu cabelo dourado como o Sol bagunçando todos os dias, sei que já virei dependente de tudo isso. E por mais que pareça exagero, é disso que eu me alimento: nós.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Dia triste

Então o céu chorou por você e ajudou a lavar a alma de todos aqueles desamparados que ali haviam. Chamaram aquilo de chuva.